sábado, 30 de agosto de 2008

Enquanto a primavera não vem, eu sinto o sol voltar a brilhar forte, eu sinto o fim do inverno em mim, eu sinto o cinza e o azul darem lugar ao vermelho-púpura. Enquanto a primavera não vem, eu te separo de mim, eu te transformo em pessoa de novo, eu te desenho em papéis do dia de ontem. Enquanto a primavera não vem, eu aprendo a gostar dos ciclos, eu me encanto, eu me pego sorrindo, um sorriso que aprendeu a ter consistência, a ter substância. Enquanto a primavera não vem, eu gosto das novidades, eu gosto de sentir o friozinho na barriga, eu danço embalada pela leveza. Enquanto a primavera não vem, eu me surpreendo, eu me preparo pro mundo, eu não acredito mais na decepção. Enquanto a primavera não vem, eu acredito mais no cotidiano, eu volto a perceber as cores ao meu redor, eu continuo a mesma de sempre. Enquanto a primavera não vem, eu sinto o conforto-incômodo, eu recomeço, eu amo os clichês, eu aprecio a quietude. Enquanto a primavera não vem, as palavras voltam a sair de mim aos poucos, serenas, comedidas. Enquanto a primavera não vem, aprecio a clareza, as luzes por trás das nuvens, o cinza não me atrai mais. Enquanto a primavera não vem, eu quero o calor, quero o pulsar apenas meu, quero o aconchego do que já conheço misturado ao desconhecido de cada dia.

Enquanto a primavera não vem, as flores vão brotando em mim, devagarzinho...

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