terça-feira, 22 de abril de 2008

Aquelas noites mal dormidas

A hora de dormir deveria ser sagrada, deveríamos todos os dias praticar pequenos rituais antes de nos deitarmos, para tirarmos o maior proveito possível desse momento de descanso da alma, do corpo, mas também de encontro com nós mesmos.
Isso é conversa para aquelas revistas de saúde e bem-estar que a gente vê por aí...

As noites aqui me convidam ao meu mais profundo imaginário, as entranhas dos meus quereres, as bifurcações de todos os caminhos que me esperam. Anoitece e minha cabeça amanhece. A cama é palco das minhas lamentações, dos meus choros sem consolo, dos meus maiores desejos, das minhas vontades contidas, das minhas tramas mal planejadas, das minhas incertezas, do futuro que roda na minha cabeça como um filme sem nexo, com roteiro bruto, nada está pronto para ser executado e filmado. Precisa do maldito Tempo.
Ah, o Tempo...o personagem principal. O meu roteiro é escrito baseado nele, para ele, vem dele, é ele. Ele parece que me induz, manipula, faz o que quer. No fundo, sei que eu devo ser seu personagem principal e ele me escreve. Me desenha, me molda, me leva a lugares amplos e estreitos, me prepara, mas para o quê? Na noite procuro essas e outras respostas, me debato, minha mente passeia pelos mais delirantes e poderosos pensamentos, anseio. Anseio pelo que virá, por ti, por tua pele encostando na minha, por teu olhar penetrando no meu, devagar...
Não durmo, só sinto...sinto que o Tempo pára por essas horas com seu jogo indefinido de ser personagem, ser autor e me deixa mandar, plena, rainha de mim. Me satisfaço, mesmo sem o sono, sem o descanso do corpo e da alma. Minha alma vai embora, voando.
Amanhece, ela pousa, densa, carregada, a espera do dia para esvazia-la.