sábado, 30 de agosto de 2008

Enquanto a primavera não vem, eu sinto o sol voltar a brilhar forte, eu sinto o fim do inverno em mim, eu sinto o cinza e o azul darem lugar ao vermelho-púpura. Enquanto a primavera não vem, eu te separo de mim, eu te transformo em pessoa de novo, eu te desenho em papéis do dia de ontem. Enquanto a primavera não vem, eu aprendo a gostar dos ciclos, eu me encanto, eu me pego sorrindo, um sorriso que aprendeu a ter consistência, a ter substância. Enquanto a primavera não vem, eu gosto das novidades, eu gosto de sentir o friozinho na barriga, eu danço embalada pela leveza. Enquanto a primavera não vem, eu me surpreendo, eu me preparo pro mundo, eu não acredito mais na decepção. Enquanto a primavera não vem, eu acredito mais no cotidiano, eu volto a perceber as cores ao meu redor, eu continuo a mesma de sempre. Enquanto a primavera não vem, eu sinto o conforto-incômodo, eu recomeço, eu amo os clichês, eu aprecio a quietude. Enquanto a primavera não vem, as palavras voltam a sair de mim aos poucos, serenas, comedidas. Enquanto a primavera não vem, aprecio a clareza, as luzes por trás das nuvens, o cinza não me atrai mais. Enquanto a primavera não vem, eu quero o calor, quero o pulsar apenas meu, quero o aconchego do que já conheço misturado ao desconhecido de cada dia.

Enquanto a primavera não vem, as flores vão brotando em mim, devagarzinho...

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Das esperas desfeitas, a mais doce. Dos desejos contidos, o mais intenso. Venho aqui admitir que faltam-me palavras. Elas, para a minha surpresa, ficaram feias demais para tudo isso. O sentimento que se torna pleno, na sua forma mais pura. As músicas soam diferentes. São as mesmas que sempre ouvi, mas agora parecem novas, tem uma doçura inexplicável nelas, que me inunda, me faz rir, me traz lembranças, me traz sorrisos, me traz as estrelas na janela das noites frias. Cenas em close, minhas mãos nas tuas costas, cada sinal, cada pintinha, eu poderia contar todas, uma por uma...o teu sorriso desperta o melhor que há em mim, teu olhar encontrando o meu me traz uma paz, uma segurança, eu não preciso mais das palavras, eu amo o silêncio nesse momento. Zoom, tua respiração mistura-se com a minha, tua voz no meu ouvido, teus sussurros, nossas peles se encostam, me faz sentir arrepios, quero me tornar tua, só tua, eu sou o outro ser ao conjunto teu. Afasta, meus olhos voltam-se para as luzes da cidade, para as ruas que passamos durante as madrugadas, para o rio, os trevos, as casas, para o parque, a varanda, a beira da piscina, o muro branco, o corredor, o elevador, tua cama, o cobertor branco, tua parede, o dia amanhecendo. Não dá, eu já falei que as palavras não funcionam mais para mim. Logo eu, que já precisei tanto delas....
És meu silêncio mais alto, fazendo-me acreditar que há amor dentro de mim. Meu corpo grita por ti, pede-me para eu deitar ao teu lado, pede-me tua mão entre os meus cabelos e o teu cheiro na minha pele de novo e de novo e de novo... Mas és infinito em mim, ocupas todos os espaços, te encontro aqui dentro todos os dias e é por isso que eu digo ao meu corpo: acalma-te! Domina essa saudade, torne-a leve, entregue-lhe asas. Deixe-a voar, deixe-a dissolver-se, até que ela se transforme em espera novamente. A espera que agora é sossego, conforto, porque já te chamei de meu, já te amei da forma mais linda que conheci, já te pintei de azul em mim.